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quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Sínodo dos Bispos: os santos transmitiram a fé

Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo de São Paulo e Presidente do Regional Sul 1 da CNBB

Na abertura da 13ª Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, com o tema – “A nova evangelização para a transmissão da fé cristã” – o papa Bento 16 proclamou “Doutores da Igreja” dois santos: o sacerdote diocesano espanhol São João d’Ávila e a monja beneditina alemã São Hildegarda de Bingen. Talvez alguém tenha estranhado; achei muito significativa e feliz essa decisão.

“Doutor da Igreja” é um título dado pelo Magistério a alguns santos que deram uma contribuição especial para a proclamação e o ensinamento autêntico da fé da Igreja Católica; ou que se destacaram na defesa e promoção da fé em momentos particularmente difíceis. Grandes Doutores da Igreja foram Santo Ambrósio, Santo Atanásio, São Leão Magno, Santo Agostinho; mas também São Tomás de Aquino, São Boaventura e Santa Teresa d’Ávila; recentemente, também Santa Teresinha do Menino Jesus foi proclamada Doutora da Igreja, sobretudo pela “pequena via de santidade”, que ela viveu e legou à Igreja.

São João d’Ávila nasceu na Espanha, perto de Toledo, em 6 de janeiro de 1499, um pouco antes de o Brasil ser “descoberto”; de família rica, foi mandado pelos pais para estudar Direito na Universidade de Salamanca; mas após uma experiência juvenil de conversão, deixou os estudos, decidido a dedicar-se à oração, à contemplação; foi tornar-se sacerdote, depois de ter distribuído seus bens aos pobres. Aqueles eram tempos difíceis para a Igreja na Europa, onde já começava a Reforma Protestante. Ao mesmo tempo, um intenso fluxo missionário era orientado para o “novo mundo“, acompanhando os “descobridores”.
Em Sevilha, sul da Espanha, São João d’Ávila também se preparava para embarcar para o México (“Nova Espanha”); mas o bispo local o chamou para evangelizar novamente a Andaluzia, descristianizada depois de mais de seis séculos de dominação dos mouros. E ele aí ficou, vivendo de maneira pobre, dedicando-se intensamente à oração, à pregação e aos estudos. Nesse tempo, foi acusado de “ensinamentos errôneos” e passou dois anos no cárcere, mas o Tribunal da Inquisição local o inocentou; e ele continuou com maior intensidade sua ação evangelizadora em Sevilha, Granada e Córdoba. Outros se uniram a ele. Era a “nova evangelização” daquela época, mesmo sem usar esse conceito...

Sua grande preocupação era com a reforma da Igreja e seus esforços voltaram-se para a melhor formação dos fiéis na fé e a preparação aprimorada dos candidatos ao sacerdócio; fundou colégios para esse fim, que se tornaram os seminários “menores” e “maiores”, a pedido do Concílio de Trento, já convocado e reunido em meados do século 16. Além de várias obras de teologia, escreveu um Catecismo (Doctrina Cristiana), em versos, para ser cantado por crianças e adultos. Foram seus amigos, também convertidos, o marquês de Llombai (SãoFrancisco de Borja) e João Cidad (São João de Deus). Santos fazem santos... Morreu em 10.05.1569. Enquanto isso, São Inácio de Loyola já havia fundado a Companhia de Jesus; São Francisco Xavier já tinha partido como missionário para o Oriente e Anchieta já estava no Brasil, entre os nossos indígenas...

Não é difícil perceber semelhanças entre a nossa época e a de São João d’Ávila: a forte descristianização, a necessidade de uma “nova evangelização”, mesmo onde todos eram tidos como “católicos”, a urgência da Catequese para todos e da melhor formação do clero, a pregação abundante, compreensível e coerente, a coragem de tomar iniciativas missionárias novas... Aquela época contou com muitos santos! Não pode ser diferente em nosso tempo: os santos são os melhores evangelizadores!

Publicado em O SÃO PAULO, ed. de 09.10.2012

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